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Guaramiranga

Uma breve história da Cultura em Guaramiranga

Por Nilde Ferreira

Na lenda, gostamos de dizer que Guaramiranga era território indígena, fértil e selvagem onde voavam enormes “Pássaros Vermelhos”. Daí, o nome (do tupy Guarani) “Guarapyranga”, adaptado para “Guaramiranga” pela cômoda Língua Portuguesa.

Numa história menos encantada, sabemos que o lugar hoje chamado Guaramiranga, foi descoberto por fazendeiros ( e seus índios escravos) que ocuparam os sertões circunvizinhos do Maciço de Baturité e que logo procuraram desbravar as verdes matas do topo da serra.

Com a instalação das primeiras propriedades rurais, deu-se origem ao povoado de Conceição, mais tarde elevado para Freguesia de Nossa Senhora da Conceição e, em 1890, batizado definitivamente por “Guaramiranga”.

A origem do perfil cultural de Guaramiranga está muito ligado ás culturas agrícolas da cana-de-açúcar e do café. Nossos ancestrais artistas, nasceram e se criaram(inclusive artisticamente), nos canaviais e nos roçados de café; onde improvisavam versos para gerar divertimento e aliviar a dura carga de trabalho.

As mulheres se educavam nas cozinhas dos fazendeiros, escutando as cantigas da tradições européias da boca das patroas holandesas e portuguesas. A essas cantigas, deram sua interpretação e daí, nasceram nossos tradicionais “ dramas”.

Essas “criações” se reuniam por ocasião dos festejos em que os trabalhadores comemoravam a colheita e, como parte do ritual, apresentavam seus versos, suas cantigas, suas artes!

Aos poucos, as criações artísticas dos trabalhadores, passaram a fazer parte das festas dos patrões que reuniam família e amigos para um divertimento regado a dramas e reisado, na faxina da casa da fazenda.

Logo, a Igreja percebeu que as artes dos seus fiéis poderiam trazer uma “animação” a mais para as Festas da Padroeira e, com isso, aumentar a arrecadação das quermesses.

Fato curioso é que uma espécie muito particular de “mecenato” se deu por aqui naqueles tempos idos: para merecerem o prazer das artes de seus trabalhadores, os patrões ofereciam as indumentárias, emprestavam adereços, colocavam os lampiões na faxina, convidavam os vizinhos para as noitadas de dramas em suas fazendas, ofereciam a cachaça gratuitamente!

Assim, diminuindo as diferenças entre patrões e empregados é que se caracterizou o nascimento do ambiente artístico – cultural de Guaramiranga.

Nossos antepassados, mestres de reisados e dramas, músicos populares, rezadeiras, fazendeiros; fizeram nascer um ambiente propício ás artes e á cultura e é nesse ambiente que temos vivido ao longo de toda a história.

 

Dos dramas ao teatro

Um acontecimento. É isso que dizem as pessoas que viveram a época em que o sítio Arábia faziam suas noitadas de dramas.

No mínimo, 53 números!(chama número cada peça, opereta que compõe a noitada de dramas).Essas noites entraram para a história de Guaramiranga por terem para aquela época proporções semelhantes às dos festivais que temos atualmente: centenas de pessoas, barraquinhas com comidas e bebidas para atenderem aos parentes vindos de outros sítios e de outras cidades, roupas de domingo, muita alegria.

Com o fim da atividade agrícola cafeeira e o início do êxodo rural local, as noitadas de dramas migraram para a sede do município onde passaram a ocupar a programação noturna de domingo.Os dramas chagaram a ser o principal entretenimento para os veranistas que fugiam das secas nordestinas, abrigados em Guaramiranga. É dessa época, o início de nossa relação com a Imortal Rachel de Queiroz que com toda sua família integrou-se ao movimento cultural da cidade, inaugurando, para nós, o “teatro de revistas”.

Grande parte das gerações nascidas em Guaramiranga até hoje, fez dramas. Até 1984,os dramas eram uma espécie de “língua oficial” da arte de Guaramiranga(talvez daí, venha nossa profunda e próxima relação com o teatro), foi quando nasceu o grupo de teatro “Cangalha”.

O primeiro grupo de teatro de Guaramiranga nasceu como resultado de uma oficina do extinto MOBRAL, a partir de uma solicitação de um grupo de jovens da cidade que não queria mais fazer os dramas, mas se interessava pela arte de representar. Chegou o teatro!

O Grupo cangalha foi o grande protagonista da inclusão da Cultura nas Políticas Públicas Municipais, ao ter sido responsável por demandas como: construção de um teatro, curso de teatro para os artistas locais, inclusão de interesses da Cultura na Lei orgânica do Município, incentivo financeiro para as montagens dos artistas locais, formação de platéia para teatro.

 

Sobre os festivais

O pioneiro dentre os festivais que deram e dão notoriedade ás atividades culturais de Guaramiranga, foi o “FESTIVAL DAS FLORES”. Organizado pela antiga Cooperativa de Produtores Rurais de Guaramiranga, e realizado em novembro de 1978, o Festival das Flores reunia claros objetivos artístico- culturais, de valorização e promoção da cultura local. A programação do festival trazia música, dramas, reisado; ao lado das exposições e vendas de flores e atraiu para o município centenas de visitantes e o apoio do Governo Estadual, que ofereceu recursos financeiros e melhorias na infra-estrutura da cidade.

Em 1989,com a eleição do Sr. Draúlio Holanda para a prefeitura do município, uma empresa privada com sede no Rio grande do Sul, propôs que a Prefeitura Municipal comemorasse os centenário do nome “Guaramiranga”, com a realização do “ FESTIVAL GUARAMIRANGA, CEM ANOS DE PAZ E AMOR Á NATUREZA”.

Esse foi o primeiro grande evento cultural realizado em Guaramiranga. Durante três meses do ano de 1990, uma intensa programação artística reunia nomes da música, das artes cênicas e das artes plásticas cearenses em Guaramiranga. O evento mereceu a atenção da imprensa e deu ao município uma visibilidade jamais experimentada.

Provocou nos grupos locais a vontade de organização e crescimento e fez com que o Poder Público Municipal despertasse para a oportunidade de crescimento pelo Turismo Cultural.

Em 1991, a Prefeitura criou um departamento para o gerenciamento da Cultura e deu ao seu diretor o status de Secretário e a missão de realizar um Plano de Desenvolvimento Cultural para o Município.

Com a inauguração do Teatro Rachel de Queiroz, em 1992 (que teve a fita inaugural descerrada pela própria homenageada), a Prefeitura de Guaramiranga possibilitou a realização do FESTIVAL NORDESTINO DE TEATRO (primeira edição em 19993), que nasceu com objetivos de promover a difusão e a valorização do teatro em Guaramiranga, no Ceará e no Nordeste e criar novas vias de crescimento econômico no município, através da cadeia produtiva do turismo cultural. Por ter sido um projeto pensado e realizado com a total parceria e intervenção da comunidade local, o FNT assumiu logo as feições de “o festival de Guaramiranga”, passando a ocupar espaço central no planejamento das Políticas Públicas e das atividades empresariais do município.

Foi o FNT que incentivou o crescimento da oferta hoteleira e a quantidade de unidades de alimentação na cidade. É desse festival, também, o mérito de ter “ forçado” a construção de um novo e maior teatro no município, o que viabilizou o crescimento do próprio festival e a chegada de outros, como o “FESTIVAL DE JAZZ E BLUES DE GUARAMIRANGA”, que fruto de uma parceria entre o Poder Público Municipal e a iniciativa privada integrou Guaramiranga ao circuito dos grandes eventos musicais do país, dinamizando a cadeia produtiva do turismo cultural na região do Maciço de Baturité e divulgando a imagem de “ cidade cultural” de Guaramiranga no Brasil inteiro;e o FESTIVAL DE GASTRONOMIA”, realizado a partir da iniciativa privada, busca dinamizar o conjunto de ofertas no calendário turístico -cultural de Guaramiranga, promovendo o encontro entre diversas culturas, através da gastronomia.

Os resultados somados por todos esses festivais, são, na verdade, benefícios singulares para a população. Por exemplo, podemos citar algumas melhorias empreendidas no município, a partir da existência e das necessidades nascidas com os festivais: construção da subestação da COELCE para qualificar a distribuição de energia elétrica no município; iluminação pública do trecho entre a sede da cidade e o conjunto da COHAB; saneamento da sede do município para qualificar a distribuição de esgotos; ampliação de 300 para 1010 leitos nas unidades hoteleiras; ampliação do número de unidades de alimentação; execução de projeto de requalificação urbana da sede, aumento do fluxo turístico e da oferta de empregos na iniciativa privada, instalação da Escola de Hotelaria e Turismo do SENAC, surgimento de 5 grupos de teatro, ampliação do número de vagas oferecidas em projetos de formação artística; construção da central de artesanato, inclusão de Guaramiranga no programa “Municípios Prioritários para o Desenvolvimento do Turismo”, da EMBRATUR; entre outras conquistas.